Um try a cada 79 segundos. Essa é a estatística oficial da última temporada do IRB Sevens Series, o principal torneio de Rugby 7’s do mundo – e melhor indicador do que se pode esperar no retorno do rugby às Olimpíadas. São 34 pontos por partida, em média. Com o try valendo cinco e o chute de conversão mais dois a matemática fica simples: é ponto atrás de ponto, em um jogo dinâmico, veloz e cheio de viradas, que com certeza vai cair nas graças do público.
Foi interessante ver o sucesso do vôlei de praia nesses Jogos de Londres. Os ingressos se esgotaram e o show das arquibancadas deve ter surpreendido até mesmo os organizadores. Com uma estrutura perfeita e uma linda arena próxima ao Palácio de Buckingham, o fenômeno do “beach volley” é um indicativo do que se pode esperar do rugby no Rio, em 2016.
O Sevens, assim como o vôlei de praia, é uma versão reduzida do jogo mais tradicional, no caso do rugby, aquele com 15 jogadores. Em pouco tempo, dá para acompanhar os melhores atletas do mundo em ação. Como uma partida dura 15 minutos – já com o intervalo – é possível assistir a oito seleções de ponta em uma hora. Além disso, é uma modalidade mais fácil para se entender as regras do esporte. São as mesmas do rugby XV, mas com menos jogadores.
Quem já assistiu, ao vivo ou na televisão, uma etapa do Circuito Mundial de Sevens sabe que o evento no Rio não vai falhar. Os responsáveis pelo torneio são os membros do International Rugby Board (IRB), que já estão trabalhando em conjunto com o Comitê Olímpico Internacional (COI) – que estarão diretamente ligados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) assim que a Olimpíada de Londres acabar.
Desde que fechou patrocínio com o HSBC há dois anos o Circuito Mundial tem evoluído profissionalmente em todos os sentidos. Os horários são seguidos rigorosamente e a organização dentro e fora de campo são exemplos para qualquer evento esportivo. Além disso, com a maior verba disponível, cada vez mais países participam do evento, ampliando o horizonte do Sevens.
“Vamos começar nossa terceira temporada como patrocinadores principais do IRB Sevens Series e estamos bastante animados. É uma competição de altíssimo nível que tem atraído a atenção do público ao redor do mundo”, afirma Giles Morgan, diretor de patrocínios e eventos do HSBC. “Foram mais de 540 mil fãs nas arquibancadas na última temporada, 10% a mais do que o ano anterior. Com a inclusão da Argentina no novo Circuito, a série seguramente vai crescer e aumentar a sua força”, completa Morgan.
O sucesso do Circuito é bom para ambas as partes. Enquanto o HSBC se aproxima de centros comerciais em todos os continentes, associando seu nome a um evento de ponta, o rugby chega a mais espectadores no mundo. Segundo documento divulgado pela Pro-Active Television, parceira do IRB na distribuição de direitos televisivos, a última temporada do Sevens Series bateu alguns recordes, com destaque para o número de horas de transmissões ao vivo pelo mundo.
Ao todo, foram 4,283 horas no ar (17% a mais do que na temporada anterior). Destas, 1.565 representam transmissões ao vivo, o que significou 35% a mais em relação ao último ano. Se as horas são difíceis de mensurar, outra estatística dá uma ideia melhor do alcance do Circuito: o Sevens foi televisionado em 152 países, com 31 empresas controlando as transmissões. Na prática, são 16 línguas diferentes, 347 milhões de televisões, em uma audiência estimada em 850 milhões de pessoas.
Em meio a tanto sucesso comercial, os atletas e profissionais de rugby também comemoram o patamar que o Sevens atingiu. A animação com a volta para os Jogos Olímpicos aparece em todos os ambientes. Desde as expectativas de uma criança treinando em um clube amador até as intensas preparações das principais seleções do mundo.
O sonho começou a ser realizado em 9 de outubro de 2009, dia em que o Comitê Olímpico Internacional votou a favor do retorno do rugby para os Jogos de 2016 e 2020. No mesmo ano de 2009, a seleção feminina de Sevens da Austrália comemorava um título mundial. Assim como o Circuito, a Copa do Mundo de Sevens, disputada de quatro em quatro anos, é um importante termômetro do que poderemos encontrar nos Jogos do Rio.
“Com a inclusão do Sevens na Olimpíada de 2016, o valor do rugby feminino cresceu bastante, assim como a importância dos 7’s, tanto para homens como para mulheres”, observa Cheryl Soon, jogadora da Austrália, que espera defender a equipe mais uma vez na Copa do Mundo de Sevens de 2013, na Rússia.
Soon está certa. Depois da indicação, a preocupação com o Sevens cresceu. Diversos comitês olímpicos nacionais estão investindo na modalidade. É o caso de Rússia, Espanha e Holanda, na Europa, da China, na Ásia, e de Canadá e Estados Unidos na América do Norte.
“Ouço de atletas e treinadores o mesmo discurso, de que não podem esperar para ver o Sevens na Olimpíada. Eles dizem estar orgulhosos e honrados pela oportunidade que ganharam de mostrar o nosso esporte para todo o mundo”, diz Bernard Lapasset, presidente do IRB.
Rob Vickerman, capitão da Inglaterra nas últimas etapas do Circuito Mundial, concorda: “Não há dúvida de que a decisão do COI elevou o Sevens a outro nível. Nós estamos ansiosos com a oportunidade de fazer com que a família do rugby, a família olímpica e a comunidade esportiva de todo mundo fiquem orgulhosos do retorno do rugby às Olimpíadas”.
No fundo, Vickerman devia estar também louco para que o Sevens retorna-se já em Londres. O time da Grã-Bretanha certamente seria candidato a medalha jogando em casa. A união de ingleses com escoceses (inventores do esporte) e galeses (atuais campeões mundiais) criaria uma seleção capaz de bater Nova Zelândia e Fiji, disparados os favoritos ao primeiro ouro olímpico.
Seria também a primeira medalha de Fiji na história dos Jogos. Os “Fijianos Voadores” tema incrível marca de 1 try a cada 51 segundos no Circuito Mundial. Quem também vê no rugby uma possibilidade de dar as caras no quadro de medalhas é a seleção de Samoa, extremamente competitiva e que já tem no currículo um título de Sevens Series. Outras seleções correm por fora, como Austrália, África do Sul e Argentina, finalista do último Mundial.
A última temporada do Circuito contou com cinco diferentes seleções erguendo o troféu em nove etapas. Como o torneio olímpico também será disputado apenas em um fim de semana, não será surpresa ver qualquer um dos citados acima levando o ouro. Também não será assustador que em quatro anos algumas das potências emergentes alcancem um nível mais alto.
No novo formato da Série, 15 seleções têm vaga permanente e cada etapa receberá um convidado. Rússia e Japão, que também tem investido no Sevens ficaram de fora, mas podem pintar na Olimpíada, também com alguma chance. E, por que não, o Brasil?
Pensando na próxima temporada, nossa seleção não foi beneficiada com o novo formato. A vaga de convidado para a etapa de La Plata, na Argentina, deve ficar com os uruguaios, atuais campeões Sul-Americanos – outra seleção que sonha com os Jogos. De qualquer forma, o Brasil tem melhorado a cada ano sua seleção de Sevens, com um trabalho específico para jogadores mais jovens desenvolvimento visando a Olimpíada do Rio.
“Nós estamos atualmente com 28 mil crianças jogando ‘touch’ rugby nas escolas de Portugal, o que é ótimo. Temos atletas muito mais bem preparados, ganhamos acesso a excelentes centros de treinamento e nos colocamos em uma posição para crescer ainda mais”, destaca Tomaz Morais, diretor técnico da seleção portuguesa, uma das novas equipes fixas no Circuito IRB, ao lado de Espanha e Canadá.
Quem também põe suas fichas no sucesso do rugby na Olimpíada é Lawrence Dallagio, campeão Mundial de Sevens no torneio inaugural em 1993, com a Inglaterra. Para ele, a entrada nos Jogos vai tornar o rugby ainda mais global: “o rugby já é um jogo internacional, que conta com 12 nações muito fortes, mas o Sevens é a verdadeira modalidade que pode globalizar o esporte. Temos todo tipo de nação jogando”.
“O Sevens se encaixa melhor em qualquer lugar. É bom para os Jogos Olímpicos e ótimo para o rugby também”.
Fotos e citações: Irb.com / Getty Images
Matéria do ESTADÃO/SP - dia 10/ago/2012
Matéria do ESTADÃO/SP - dia 10/ago/2012
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